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TEM QUE ACABAR – 324.829

  Há um momento a partir do qual a loucura se alimenta de si mesma, se esquecendo de qualquer outra coisa que a mantinha s?. Está na hora de acordar, meu amigo.

  I

  Safiel sondou os espa?os e todas as probabilidades, mesmo aquelas que se escondiam nos tempos n?o criados.

  Olhou calmamente para o comandante dos vigilantes. Sentia compaix?o pela dor dele, sentia compaix?o pela solid?o e saudade que ele sentia. Porém, uma coisa era ter compaix?o, e outra era se deixar ser usado.

  - Essa guerra está indo longe demais – falou, imprimindo em sua voz toda a autoridade que o outro poderia entender. – Tentaram envolver os drag?es, e muitos seres morreram por isso. A morte que lan?am destrói tudo em que tocam, dahrars ou nefelins. Isto já está ficando fora de controle – acusou. – Mentiras, engana??es, ...

  - Como sempre a culpa é nossa. Como eu poderia esperar algo diferente de você? Eu poderia? N?o, mas é claro que n?o. Você quer proteger essas abomina??es – acusou o vigilante, as m?os nervosas e suadas denunciando seu desgosto.

  - Nem todos os dahrars s?o dementes ou dominados pelo mal despossuído de luz. Vocês est?o atacando e matando qualquer um em que ponham os olhos. Até mesmo nefelins de poder vocês est?o atacando...

  - Tentamos n?o atacar os nefelins, mas, s?o efeitos colaterais com que teremos que lidar, porque estamos em guerra, e quanto aos seus “bons” dahrars, tem que convir que eles s?o raríssimos, esses de que falou. Proteger a esses poucos n?o é aceitável para colocar a cria??o sob a espada. Mas, mesmo que n?o entenda esse argumento, n?o se esque?a que mesmo esses de que se compadece poder?o gerar, no futuro, algo demente. Eles n?o podem continuar.

  - Combate-se o mal pontualmente – falou. – Mesmo que tenha se esquecido, a grande maioria dos dahrars n?o é gerada pelos dahrars – frisou. – Além disso, me permita lembra-lo de que a consciência existe neles também. N?o é admissível que um ser de luz sofra a sorte que escolheram lan?ar no ar de suas dores.

  - Deveria ser da nossa dor, da dor dos que encaram essas faces loucas que buscam apenas torturar e esmagar a alma dos que nos s?o caros. De que dor fala, anjo? Da dor deles? é desses que você vem falar? Pois também é deles que nós estamos falando, desses dementes...

  - Pois assim é, porque n?o estou falando da dor deles, mas das suas...

  - Nossas dores? Mas é certo que estamos...

  - Eu falo da dor da saudade que vocês sentem – sussurrou para os ventos, para que fosse ouvido por todos. – Partir em justas em nada vai aliviar esse tormento.

  O caído virou-se e encarou os seus, escondendo rapidamente aquela pontada de dor que abominava. Viu que os seus também recolhiam seus cora??es.

  - Somos cacos, seres rompidos, despojados, abandonados – lamentou num descuido do pensamento.

  Apressadamente se recomp?s, voltando os olhos ferinos para o anjo.

  > Vocês se recusam a ver, e v?o obrigar que todos paguem pela vis?o tacanha de vocês. N?o veem que eles est?o estuprando vigilantes, dêmonas e toda sorte de pessoas? Eles n?o est?o se atacando mais. Eles est?o, premeditadamente, se fortalecendo, querendo por abaixo tudo o que existe. Eles devoram os cadáveres no campo de batalhas, os carregam como pe?as de carne e... – o vigilante parou seu discurso apaixonado, os olhos examinando o anjo.

  - N?o devemos perder nosso tempo com incompetentes – falou o segundo vigilante em comando, tomado de ódio, ao ver que o companheiro ficara desanimado, os olhos parados no anjo. – Se essa é a sua resposta, se essa é a resposta de vocês, confortavelmente situados no céu, que seja – declarou.

  - Mas, n?o é isso, n?o é mesmo? – sondou o comandante dos vigilantes, voltando a tomar a dianteira na reuni?o, os olhos ainda vasculhando todas as linhas faciais do anjo. – Vocês sabem disso tudo, e se importam sim. Apenas, apenas essa n?o é uma guerra de vocês – sussurrou magoado e ferido.

  - Vocês criaram o que os aflige. O momento de intervirmos n?o se apresentou, e espero que n?o se apresente.

  O comandante olhou para as faces dos companheiros, e viu ali o mesmo desencanto que o acometia.

  Respirou fundo.

  - Essa é uma escolha, essa é a escolha de vocês... Vocês s?o fracos, e temem se contaminarem e terem uma nova leva de caídos. Vocês s?o fracos – acusou novamente. – Temem o que? O desprezo e a arrogancia que vários dos seus mostram no campo de batalha? Temem o gosto adocicado da vingan?a? Ah, sim, é isso o que temem. Ent?o, é melhor permanecerem com seus sorrisos angelicais em seus locais confortáveis e seguros, e deixar que outros destruam o que temem. Que assim seja – falou, tomando a dire??o do solo onde outros vigilantes, nefelins, pessoas e homens aguardavam pelo resultado do encontro.

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  Sem qualquer piedade, ao verem a decis?o inabalável dos anjos, sob seus olhos indiferentes passaram a fio os dahrars aprisionados e se puseram a caminho, emitindo pelo mundo diversos avisos para que intensificassem os confrontos.

  II

  Um grande grupo de ca?adores, que vagava pelo mundo atrás dos dahrars, um dia chegou sobre as montanhas brancas do norte. Lá eles encontraram um numeroso grupo de dahrar, e lhe fez frente.

  N?o houve qualquer palavra, nem gemido ou suspiro, nem mesmo qualquer tentativa para que o outro lado se entregasse e se arrependesse, ou mesmo que fosse embora. Todos eles sabiam o que iria acontecer ali, e todos eles desejavam isso de dentro de suas almas feridas.

  O dahrar avan?ou, as sombras progredindo no seu compasso, amea?adoras, os sons de xingamentos e impropérios parecendo ser cria??o do próprio ar enquanto o acompanhavam e pareciam ter sido tecidos em suas sombras.

  Os vigilantes desconsideraram o avan?o cheio de amea?as e aguardaram em paz.

  Tremores percorreram as montanhas e avalanches abriram sulcos na terra e reabriram vales profundos, envoltos num peso sombrio que se postava sobre todas elas. Sons de armas bramidas com desprezo e arrogancia, com ódio e determina??o reboaram por aquelas plagas abandonadas.

  Quando o silêncio voltou novamente para aqueles lugares, poucos vigilantes haviam sobrado. Os dahrars que agonizavam logo foram passados na espada ou na ponta das lan?as, para que seu fim fosse consumado e confirmado.

  Ent?o o vigilante olhou curioso para o sudeste, tal como os outros vigilantes.

  Sabiam bem de onde vinha tal pulso de energia, e sabiam bem o que estava acontecendo por lá.

  Enquanto subiam no ar o vigilante ficou se perguntando por que eles haviam se denunciado.

  III

  - Lázarus e sua prostituta – sorriu o vigilante, o fel escorrendo de suas palavras enquanto descia com sua tropa à frente dos dois. - Você tem que dizer onde eles est?o – pediu, a amea?a escorrendo pela sua voz.

  Lázarus olhou com um sorriso simples no rosto para Ariel, que lhe sorriu de volta, voltando rapidamente os olhos para os vigilantes.

  - V?o embora! – mandou Lázarus. – Vocês n?o s?o bem-vindos aqui – avisou.

  - Você vai nos dizer, de um jeito ou de outro – falou, estocando curto com a lan?a, que rasgou o ar com fúria. Lázarus apenas pendeu o rosto para o lado, sem tirar os olhos do vigilante.

  O vigilante, sentindo uma pequena press?o contra seu peito, lentamente baixou os olhos, mirando a espada curta que ele apontava contra seu cora??o.

  - Eu falo novamente: vá embora – Lázarus falou, apertando um pouco mais a espada contra o cora??o do outro.

  - Você é um sentimental e um fraco – resmungou, come?ando a se virar, como se fosse embora. Porém, o giro n?o parou, completando-se em si mesmo, a espada esticada junto ao ombro.

  Lázarus se afastou num salto, cortando um dos vigilantes que avan?ava pelo flanco.

  Uma rápida olhada e viu Ariel cortando a perna de um deles, da coxa até um pouco abaixo do joelho. Quando ele caiu a viu atingi-lo pelo topo da cabe?a, cortando até perto do nariz.

  Como se fosse normal ergueu-se e se postou ao lado de Lázarus.

  - é a segunda vez que poupo essa vida que tem agora – avisou, a voz tornada fria e dura, os olhos vigiando de esguelha os outros cinco vigilantes.

  O caído avan?ou tomado de fúria por ter sido humilhado na frente dos seus comandados, que avan?aram junto com ele.

  Lázarus abriu as asas e girou todo o corpo, colando a espada ao longo da asa direita.

  O movimento pegou o vigilante mais próximo de surpresa, que teve a cabe?a cortada por todo o lado, chegando até os olhos. Depressa retirou a espada do corpo que estremecia e atingiu o vigilante que comandava o grupo, subindo do queixo até varar pelo topo da cabe?a.

  O vigilante tremeu e seus bra?os caíram. Lázarus se manteve assim, quieto, segurando o comandante com sua espada, os olhos presos no único vigilante que restara e que os examinava com tranquilidade de uma certa distancia.

  Vendo que tudo estava quieto, conferiu que Ariel já se livrara de outros dois e se postava tranquila ao seu lado, vigiando o último deles.

  Por fim o vigilante se moveu, assim que Lázarus deixou o corpo do comandante cair para a terra.

  - é... Estamos todos loucos – cismou o sobrevivente guardando a espada, a voz compassiva e tranquila. - Sabem, n?o quero mais isso para mim. Acho que, realmente, estou cansado demais disso.

  Lázarus o sondou e viu paz ali. Avan?ou para a quarta, e lá estava ele, imerso numa invejável paz.

  Ariel e ele também guardaram suas espadas, uma dor suave embalando suas almas.

  - Feliz de você, meu amigo, feliz de você. Mas, que bom que despertou.

  - S?o apenas escolhas – falou, um brilho suave surgindo e se intensificando à toda sua volta. – Sei agora que n?o há falha, erro, perda. Nem mesmo atraso há. Tudo tem seu tempo... Akindará...

  - Akindará – sussurraram os dois, olhando-o enquanto sumia dentro de uma nuvem alta.

  - O que foi isso, Lázarus? – perguntou Ariel baixinho, os olhos perdidos na contempla??o do céu.

  - Acho que nosso futuro, minha querida – falou tomando sua m?o, perdido na mesma vis?o.

  Ariel levantou os olhos para a lua que se escondia atrás de uma pesada nuvem que parecia empreender contra o céu.

  - Será que vai acabar mesmo? Os sussurros de que esta guerra está para acabar est?o cada vez mais intensos.

  Lázarus se virou para ela.

  Havia esperan?a naqueles belos olhos negros e brilhantes; havia esperan?a na sua voz e em seus modos sonhadores, desses em que se dá um tempo para deixar a alma suspirar aliviada. Por alguns segundos deixou isso se prolongar como uma pausa, um retiro particular há muito esperado.

  - Tudo logo vai parecer cessar. Na verdade, meu bem, já está quase se parecendo assim. Mas sinto dizer que essa paz conquistada será breve, porque essa nem mesmo é a guerra verdadeira contra os dahrars. Essa n?o é a verdadeira guerra – repetiu. – Esses enfrentamentos s?o apenas para tomar consciência do inimigo, saber suas limita??es, suas capacidades. Os que batalham lambem suas feridas e se recolhem para seus lares, para contar e ouvir estórias perto das fogueiras ou lareiras. Vai parar por algum tempo, talvez até mesmo por um logo período. Mas, quando tudo recome?ar, vamos suspirar e reclamar que foi breve demais. As for?as, meu amorzinho, ainda est?o se medindo, se ajustando, enquanto os que se julgam donos de destinos tecem seus planos.

  - Ah, você podia, ao menos, ter mentido para mim, por algum tempo.

  - Mas você viu que levei algum tempo para te responder, n?o é mesmo? – respondeu, puxando-a para si, deixando sua alma sem resposta, se tudo aquilo, algum dia, iria realmente ter um fim.

  - éééé... Mesmo que tenhamos um tempo sem uma guerra declarada, é verdade o que disse. O problema dahrar n?o foi resolvido. Há muitos grupos deles por aí, loucos de pedra, raivosos, dementes, alucinados.

  - Mas, ao menos, n?o será a guerra ainda, n?o é mesmo? Uma escaramu?a aqui, outra ali. Temos que mantê-los sob controle, só isso.

  - Só isso... – Ariel suspirou.

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